quarta-feira, 27 de abril de 2016

Companheira

Hoje estou bem. Sinto-me em paz e tenho a cabeça descansada. Há exatamente uma semana atrás não estava. Chorava, olhava para o corpo de uma das pessoas mais importantes da minha vida. A minha avó.
Hoje estou bem. Ela também está, tenho fé que sim. Sei que Deus não tem melhor lugar pra ela do que o céu, e que provavelmente está com o resto da sua família e amigas a pôr a conversa em dia. Ela gostava muito de falar e fazer as pessoas rir.
Hoje estou bem, e quem não estaria? Só tenho boas memórias dos 20 anos que passamos juntas. Aliás, passo os dias a contar as mesmas histórias aos meus amigos e a usar as suas expressões com a minha família, vezes e vezes sem conta. Acho que começo a ser um bocado chata.
Mas a verdade é que foram 20 anos. Desde pequena que a minha rotina passava por acordar ao lado dela, ir pra escola, ir jantar a casa e voltar pra casa dela. Ela aturou a minha adolescência/ fase da incompreensão, gritou muitas vezes comigo e fê-lo com razão. Ela deu-me educação e estragou-me ao mesmo tempo, coisa típica dos avós. Percorrendo todos os vídeos que gravamos (e foram muitos) e as fotos que tirei, não faço outra coisa senão rir, às gargalhadas mesmo.
Hoje estou bem, porque sou uma pessoa com sorte. Tive a sorte de ter tanto amor. Mas não era um amor normal. Não eram precisas palavras, sempre foi uma mulher de ações. O meu coração enchia-se de orgulho quando falava de mim às suas amigas tratando-me por "Minha Companheirinha", explicando primeiro que era uma pessoa preguiçosa e que a chateava muito a cabeça, mas sem nunca se esquecer de dizer que era uma boa menina e que sem mim a sua vida era mais vazia.
É isso que sinto. A minha vida está um pouco mais vazia agora. Sinto falta de ter de acordar de manhã para ir tomar conta dela, sinto falta de ouvir a minha mãe a dizer "levanta-te, temos de ir tratar da tua avó". Sei que tratei dela como ela me tratou. Nos últimos tempo a minha avó era o meu bebé. 
Vou lembrar-me sempre do seu sorriso e da sua garra e força. Dizem que sou parecida com ela. Espero que sim. Espero mesmo que consiga pôr em prática todos os seus ensinamentos, ser 1/5 daquilo que ela era. Se assim for, eu não vou estar simplesmente bem... Eu vou estar feliz.

Alguém já teve uma experiência destas? Como se sentem em relação à perda dos vossos entes queridos?

Deixo-vos algo que li num cartão no funeral da minha avó:

"...e eu vou aprender a olhar para dentro do que resta de ti em mim, para assim no silêncio profundo do ser te reencontrar."

3 comentários:

  1. É sempre muito doloroso perder alguém que nos é próximo e nestas situações só se pode mesmo dar tempo ao tempo... força!
    beijinhos
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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  2. Ela estará sempre aqui a olhar por ti.
    http://danivadreams.blogspot.pt/

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